Qual a razão do apelo universal de Friends? Talvez seja pelo fato da série se passar em Nova York, cidade mais globalizada do mundo. Poderia ser também o casting, um dos melhores de todos os tempos (pra não dizer o melhor de todos os tempos). Ou quem sabe um cuidado todo especial no roteiro, fazendo com que todos nós nos importemos com aqueles personagens, tornando-nos amigos deles, e com isso, nos obrigando a acompanhá-los todas as semanas, mesmo quando as piadas não eram tão boas assim.
Na verdade, trata-se de uma combinação desses fatores. E eis que temos How I Met Your Mother, série do canal CBS (Fox Life no Brasil) que chegou para sanar os corações dos fãs em abstinência. Lendo-se a sinopse, pode-se até pensar que a semelhança entre ambas beira o plágio: grupo de amigos, na casa dos vinte e poucos, enfrentando momentos decisivos nas vidas amorosas e profissionais, etc. Mas assistindo alguns episódios, essa impressão logo se desfaz. Pra começar, a série toda é um grande flashback, contado do ponto de vista do pai (Ted Mosby, o protagonista) para seus dois filhos adolescentes (a história de como ele conheceu a mãe deles...).
Isso acaba dando uma grande liberdade para as histórias, já que elas não precisam seguir uma estrutura começo-meio-fim, podendo ir e voltar ao sabor da memória do Sr. Mosby, permitindo inúmeras possibilidades narrativas. HIMYM acaba também tendo muitas semelhanças com outra sitcom imortal, Seinfeld, já que existem diversos “episódios-conceito”, como The Limo, que se passa quase por inteiro dentro de uma limusine ou Brunch, onde a mesma história é apresentada três vezes, cada uma delas do ponto de vista de um personagem diferente. Tamanha liberdade acaba por fazer com que as tradicionais risadas presentes no formato tenham que ser adicionadas posteriormente, com o episódio já editado, já que tamanho vai-e-vem acabaria por deixar muitas piadas sem sentido para quem assiste às gravações. Isso torna HIMYM muito mais relacionada com o bloco “quintal” da NBC (Office-Earl-30-Scrubs) do que com suas companheiras de segunda-feira da CBS (Men-Christine), que adotam um formato mais tradicional.
O elenco acaba por ser o ponto “menos forte” da série. Jason Segel, Josh Radnor e Cobie Smulders (que é uma fofura) são atores competentes, mas não muito mais que isso. Os destaques acabam sendo Alysson Hannigan (que já tinha um timing cômico excepcional desde os tempos de Buffy) e Neil Patrick Harris.
Harris merece um parágrafo só pra falar dele, inclusive. Tá certo que ele provavelmente tem o personagem melhor roteirizado de todos, um nerd-pegador (!) fanático por ternos e cujo emprego é um mistério para todos (herança de Chandler?). Mas ele consegue roubar a cena em simplesmente todos os episódios, mesmo quando o seu Barney (ou seria Swarley?) apenas tangencia a trama principal. Palmas para ele, um dos melhores comediantes em atividade na televisão (e eu estou falando de uma mídia que abriga monstros como Alec Baldwin, Steve Carell e Julia Louis-Dreyfus, vejam vocês).
O ponto é: mexam esses traseiros gordos e assistam essa pérola do humor contemporâneo. Sei que quase ninguém aqui no Brasil tem acesso à Fox Life, mas isso não é desculpa. Quem tem tempo pra assistir Heroes (que já risquei da minha lista, a propósito) tem também pra assistir HIMYM. Sem mais.