Spoilers sobre o último episódio da série, etc.
Chase (que escreveu e dirigiu a finale) fez o favor de lançar um incontável número de referências. As que mais me chamaram a atenção:
- Quando Tony vai visitar Silvio no hospital, está passando Pequena Miss Sunshine. Talvez seja um jeito de Chase dizer que muito antes das famílias disfuncionais virarem moda no cinema independente americano, ele já era mestre no assunto.
- Quando Tony está varrendo perto da piscina, ele ouviu barulho de patos! Patos!
- O nome do episódio (Made in America) pode se referir à um sem número de coisas. Pode ser sobre a saga dos imigrantes que fizeram a vida nos Estados Unidos. Pode ser também uma piada sobre as caminhonetes SVU, tipicamente americana, cujos donos não deram muita sorte (um teve a cabeça esmagada, o outro quase explodiu junto com o carro. Outra possibilidade é que seja um nome mais metalingüístico, sobre a produção cultural do país (li alguém dizendo, não lembro onde agora, que a verdadeira expressão artística dos EUA são as séries. Vendo seriados como Família Soprano é fácil entender o porque da afirmação). A analogia mais óbvia porém, é aquela que traduz “made” como “morto”, o que se encaixa como uma luva na cena final.
Cena essa que vai gerar polêmica por alguns anos. Resumindo-a: Tony, Carmela e AJ e família estão jantando numa lanchonete. Um homem estranho os observa. Meadow está estacionando o carro. O suspeito entra no banheiro. Quando Meadow está para adentrar a entrar no estabelecimento, a câmera dá um close em Tony. Daí vem um CORTE SECO PARA UMA TELA PRETA E SILENCIOSA. Fim. David Chase, esperto que é, sabia que com um final desses, sua série seria eternamente comentada. E ainda por cima, ele deixou diversas dicas: em uma cena do episódio Soprano Home Movies, retomada no final de Blue Comet, Bob diz à Tony que “nós nunca vemos quando (a morte) acontece”. Há quem diga que os anéis de cebola que os personagens estão degustando simbolizam aureolas, já que eles seriam mortos em breve (é, essa é bem brega...). Outra referência é quando Tony conversa com Carm no meio do episódio, ele segura uma laranja, que nos filmes da trilogia O Poderoso Chefão é um prenúncio da morte.
Verdade seja dita: por mais que Chase se esforçasse, ele dificilmente escreveria um final que deixaria todos satisfeitos. Se tudo acabasse em carnificina, seria clichê demais. Se nada acontecesse, e o jantar prosseguisse normalmente, seria anticlichê demais, o que de certa forma é um clichê da série. Terminar dessa forma é um ato um tanto provocador (como a série sempre foi), além de servir pra aguçar a imaginação das pessoas. Será que o Michael Corleone Wanna Be estourou os miolos de Tony e sua família? Ou será que eles foram felizes para sempre, e Tony acabou morrendo de infarto enquanto brinca com seu neto na plantação de tomates?
Ironicamente, a série símbolo de uma emissora que está mais interessada na riqueza artística de seus produtos, do que nos lucros exorbitantes proporcionados por séries que nunca terminam, terminou com o que seria um baita gancho pra uma outra temporada ou quem sabe um filme. Em breve, nos cinemas.