Superman é um dos super-heróis mais complicados de se trabalhar no cinema. Se com outros personagens, é possível apresentar uma história sobre o adolescência (Homem-Aranha), uma fábula sobre o preconceito (X-Men) ou até mesmo uma versão moderna de Dirty Harry (Batman Begins); com o Homem de Aço isso não é tão simples. Grande parte dessa dificuldade vem da (in) vulnerabilidade do personagem. Se em estado normal ele é invencível, quando se acrescente kryptonita, o Super se torna o mais frágil dos seres. Como resolver esse dilema? Transformar os filmes do Azulão em um romance. Um romance disfarçado de blockbuster.
A idéia do diretor Bryan Singer nem é tão original assim – Richard Donner já fez a mesma coisa em Superman – O Filme de 1978. É possível definir O Retorno como uma declaração de amor de Singer ao trabalho de Donner. Há diversas referências distribuídas pelo longa. Uma foto de Glenn Ford - o Jonathan do longa original – no Rancho Kent, alguns diálogos que nos remetem ao filme clássico (“Estatisticamente falando, voar ainda é o jeito mais seguro de se viajar”) – além das “dicas” de que o Superman seria uma versão moderna de Jesus Cristo – se hoje em dia, ele cai na Terra com os braços abertos em formato de cruz, em 78 ele mostrou ser onipotente e girou a terra ao contrário para salvar sua amada. E qualquer adaptação que coloque Marlon Brando como o pai do salvador, já tem o meu respeito garantido.
Singer sabe como filmar bonito. A seqüência em que ele tenta impedir a queda de um avião é deslumbrante. Mas ele não se dá bem apenas com cenas de ação. Um exemplo disso é a cena em que ele voa pelos céus de Metrópolis com Lois é belíssima, nem precisa de diálogos para se fazer entender. Imagens dizem tudo. O diretor adicionou ainda alguns toques de humor negro, como nas piadas envolvendo os cachorros – uma no começo e uma no fim do filme, além de uma manchete de jornal estarrecedora que, para a alegria dos fãs, revela-se uma grande fraude.
A trilha sonora de John Ottman basicamente reutiliza os temas clássicos de John Williams e se sai muito bem. Quem não ficou arrepiado ao escutar o tema de abertura clássico da série?
O elenco é muito competente. Brandon Routh conseguiu desenvolver seus dois personagens de maneira convincente. O seu Clark Kent é menos “bobalhão” do que o de Reeve. Sinal dos tempos. Em pleno século XXI, quem torceria por um protagonista tão loser? Kate Bosworth cumpriu com destreza a tarefa de interpretar uma personagem mais velha que ela. E ainda por cima, sua Lois Lane é muito mais bonita do que a de Margot Kidder – embora ela não tenha a potência de uma Erica Durance. Outro ator que se destaca é James Marsden. Vivendo um personagem muito parecido com o feito por ele em Diário de Uma Paixão, Marsden mostra que ser o antagonista do mocinho em um triângulo amoroso não implica em ser necessariamente uma pessoa de má índole.
Já Kevin Spacey parece ter encontrado o tom certo para seu Lex Luthor. Fugindo da caricatura do trabalho de Gene Hackman na cinessérie original, Spacey adiciona uma aura mais ameaçadora ao personagem. Não é à toa que sua discussão com Lois Lane foi incluída no trailer. O problema de Luthor como personagem tem como culpado o roteiro. Eu não gosto da origem dessa origem que o personagem tem no cinema, de gênio do mal. Ela é muito pobre, fica parecendo algo “Sou mal porque sou mal”. Agrada-me muito mais a abordagem usada em Smallville, por exemplo, onde Clark e Lex se conhecem desde à adolescência, ela confere mais complexidade e credibilidade ao vilão – o tornando uma espécie de Darth Vader pós-moderno.
O filme possui uma reviravolta em sua segunda metade – a cena onde tal informação é confirmada se revela uma das melhores da fita*, que cria uma elipse em relação ao início do filme – e conseqüentemente ao original de 78. Muito tem se discutido sobre ela. Eu gostei. E quero ver como esse acontecimento será trabalhado nas seqüências vindouras.
Eu, fã de Smallville que sou, até tentei catar algumas referência à série. Mas não achei quase nada. Em uma das cenas mais divertidas do filme, Clark e Jimmy estão em um bar, tomando café, quando o noticiário anuncia que a cidade está em perigo. Olsen se vira para comentar o fato com o colega, mas encontra o assento ao seu lado vazio – na reprodução de uma das gags mais clássicas da série. O desfecho de Lex no filme também nos remete ao destino de seu correspondente televisivo, no final de uma das temporadas (não vou revelar qual delas pra não estragar a surpresa).
Por falar em séries, a seqüência envolvendo a queda de um avião me remeteu diretamente ao piloto de outra série de grande sucesso – precisa dizer qual? E por mais competente que Frank Langella seja ao interpretar Perry White, eu fiquei muito curioso em saber como Hugh Laurie (House) – a primeira escolha para o papel – trataria o personagem. E antes do filme começar, foi exibido o trailer de Sentinela – que promete ser um thriller bem interessante – que conta com as presenças de Kiefer Sutherland (24 Horas) e Eva Longoria (Desperate Housewives) no elenco.
A bilheteria aquém do esperado pode ser explicada no fato de que o filme não investe apenas na ação desenfreada. Antes de qualquer coisa, O Retorno conta a história de duas pessoas apaixonadas, que não sabem como lidar exatamente com os sentimentos que sentem um pelo outro. E é aí que reside sua grandeza. E que venha logo o próximo filme da série!
*meu momento Rubens Ewald Filho.
2 comentários:
Gostei da crítica. Concordei com quase tudo.
Eu só mudaria a frase "E que venha logo o próximo filme da série!" para "E que venha logo o DVD e o próximo filme da série!"
Já que teremos alguns extras...
Porra Cavalca mas vc é fãzóide demais do personagem cara... e isso obscureceu totalmente sua visão kkkkk... Routh não convence, o roteiro não convence... e sobre a pergunta que todos fazem, do porque o filme ter ido tão mal na bilheteria... a resposta está claríssima mas os fanboys jamais admitiriam: o filme é simplesmente fraco, e só.
Abraço do seu ídolo,
Darth Maul
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